A Maha Yoga de Sri Ramana
Parte IV
Os trechos a seguir foram retirados do Capítulo XII do livro Maha Yoga, que já foi traduzido pelo Prof. Hermógenes e publicado no Brazil na década de 1950. Fizemos uma nova tradução do texto e há possibilidade de publicação neste ano (2011). Os trechos abaixo são provenientes da nova tradução. Em negrito são os subtítulos colocados pelo autor (K. Lakshmana Sarma) e, entre aspas (e em itálico), os ensinamentos do Maharshi.
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DEVEMOS CONDENAR O DVAITA? “Dvaita[1] consiste em (erroneamente) identificar o Ser como o não ser. Advaita é deixar de fazer isso.”
HEROÍSMO. “Quando o eu surge, torna-se ele mesmo o sujeito e o objeto. Quando o eu não surge (enquanto ego) não há sujeito nem objeto. Para o discípulo maduro, nada mais precisa ser dito. Sabendo isso, ele volta sua mente para o interior, afastando-a de tudo que é externo. Para poder fazê-lo, deve-se ser um herói (Dhira). Mas, que heroísmo é necessário para encontrar a Si mesmo? ‘Dhi’ significa mente e ‘ra’ quer dizer evitar que as energias mentais se desgastem em correntes de pensamentos. Quem pode deter o fluxo dos pensamentos e voltar a mente para o seu íntimo é um Dhira.”
AUMENTO DE CONHECIMENTO RELATIVO. Quando alguém quis saber sobre suas vidas passadas, o Sábio disse: “Mesmo com o conhecimento da vida presente você não é feliz. O conhecimento de suas vidas passadas só aumentará sua infelicidade. Todo esse conhecimento é apenas uma carga para a mente.”
O SER É A TESTEMUNHA? “A ideia do Ser como uma Testemunha está na mente. Pode ser útil para auxiliar a aquietar a agitação mental, mas não é a Verdade absoluta do Ser. A testemunha está relacionada à coisa testemunhada, Tanto a testemunha como a coisa testemunhada são criações mentais.”
“Ausência de Ego, Amor, o Espírito Santo e o Espírito, são todos os nomes de uma única coisa: o Ser.”
FELICIDADE. “Buscar a felicidade enquanto identificando o Ser com o corpo é como tentar atravessar um rio nas costas de um crocodilo. Quando o ego surge, a mente se separa da Fonte, o Ser, e fica inquieta, como uma pedra atirada no ar, ou como as águas de um rio. Quando a pedra ou o rio atingem o seu lugar de origem – o chão ou o oceano, respectivamente – elas cessam o movimento. Assim, também a mente descansa e é feliz quando retorna à Fonte e Nela repousa. Como a pedra e o rio voltam infalivelmente ao ponto de partida, assim também a mente inevitavelmente retornará – algum dia – à sua Fonte.” Dessa forma, existe a promessa de que todos alcançarão a Meta.
“Felicidade é a sua própria Natureza. Portanto, não é errado desejá-la. O que é errado é procurá-la externamente, porque ela está dentro de você.”
SAMADHI E ÊXTASE. “No Samadhi em si há apenas a Paz perfeita. O êxtase advém quando a mente revive com o término do Samadhi, com a lembrança da Paz do Samadhi. Na devoção o êxtase é anterior. Manifesta-se por meio de lágrimas de alegria, pelos cabelos ficarem em pé, e pela voz vacilante. Quando o ego finalmente morre e se alcança o Sahaja, esses sintomas e os êxtases cessam. Não há êxtase ao despertar do sono, porque Samadhi é sono no estado de vigília.”
“Buda estava interessado apenas em instruir seus discípulos em como alcançar a Felicidade permanente. Recusava-se a responder a perguntas – que se baseavam na ignorância dos interlocutores – sobre Deus e outros assuntos. Por isso foi depreciado como niilista, sunyavadi.”
O SÁBIO QUE DIRIGIA UM REINO. Pergunta: “Como pôde Janaka dirigir seu Reino, sendo um Iluminado?” Resposta: “Janaka fez essa pergunta? Ela não surge no Estado do Conhecimento Correto. Só surge na ignorância.” O interlocutor: “Provavelmente ele considerava suas atividades como um sonho.” O Sábio: “Essa explicação também está na ignorância.”
PURIFICAÇÃO DA MENTE. “A Experiência do Ser (Jnana) por si só purificará a mente.”
ANIQUILAÇÃO DO KARMA. “Quanto mais se poda uma planta, mais ela cresce. Igualmente, quanto mais se procura aniquilar o Karma, mais ele aumenta. Você deve procurar a raiz do Karma, o ego, e destruí-la.”
SOBRE BRAHMACHARYA. “Brahmacharya (abstinência sexual) não pode ser estabelecida por simples força de vontade. O verdadeiro Brahmacharya não é externo. É viver em Brahman, a Realidade. Alcançada esta, o outro virá por si só.”
MENTE SÃ, EM CORPO SÃO. “Se você continuar com a ideia de que a saúde do corpo é necessária à saúde da mente, não haverá fim para o cuidado com o corpo.”
A ideia dos Hatha-Yogis de preparar o corpo para a prática dos métodos para alcançar a Libertação, fazendo-o durar por tempo incrivelmente longo, é ridícula. Justificam-na comparando o corpo a uma tela, que tem de ser preparada para ser pintada. O Sábio Ramana disse: “O que é a tela e o que é a pintura? O Ser é a tela, e o corpo e o mundo são a pintura. E o que precisamos para conscientizarmo-nos do Ser é apagar a pintura.[2]” Dessa forma, o Hatha Yoga não é necessário ao discípulo maduro.
CONTROLE DA MENTE. “Para acalmar os incessantes movimentos da tromba do elefante, o condutor lhe dá uma corrente pesada para segurar. Assim também, para controlar a divagação da mente, devemos ocupá-la da melhor forma possível; caso contrário ela se envolverá em alguma tarefa inconveniente. A melhor de todas as ocupações a dar à mente é engajá-la na busca de sua própria Fonte. A segunda melhor é a meditação ou o japa.”
JEJUM PARA O PROGRESSO ESPIRITUAL. “O jejum deve ser essencialmente mental. A simples abstinência de alimentos não trará proveitos – isso até mesmo transtornará a mente. O progresso espiritual vem mais pelo controle da alimentação. Mas, se durante um mês de jejum, a perspectiva espiritual for mantida, então em cerca de dez dias após o jejum ser quebrado (se corretamente quebrado e seguido de alimentação criteriosa) a mente tornar-se-á pura e uniforme, e assim permanecerá.”
[1] Filosofia de interpretação do Vedanta (a parte final dos Vedas, onde se encontram os Upanishads) que postula uma dualidade essencial.
[2] Ou seja, voltar a mente para dentro, para o Ser (Pura Consciência), quando então não mais será percebida a existência de um corpo ou mundo como algo real, exterior, com existência própria. [N.T.]
