A Consciência e o Absoluto
(diálogos extraídos do livro “Consciousness and The Absolute – The Final Talks of Sri Nisargadatta Maharaj”, edited by Jean Dunn)
Visitante: Por que pensamos em nós mesmos como indivíduos separados?
Maharaj: Seus pensamentos sobre individualidade não são, na realidade, seus próprios pensamentos; eles são todos pensamentos coletivos. Você acha que é você quem tem os pensamentos; na verdade os pensamentos surgem na consciência.
À medida que cresce nosso conhecimento espiritual, nossa identificação com um corpo-mente diminui e nossa consciência se expande para a consciência universal. A força da vida continua a atuar, mas seus pensamentos e ações não ficam mais limitados a um indivíduo. Eles se tornam a manifestação total. É como a ação do vento – o vento não sopra para qualquer indivíduo em particular, mas para a manifestação como um todo.
V.: Como um indivíduo, podemos retornar para a fonte?
M.: Como um indivíduo não; o conhecimento “eu sou” deve voltar para sua própria fonte.
Agora, a consciência está identificada com uma forma. Mais tarde ela compreende que não é essa forma e segue adiante. Em uns poucos casos ela pode alcançar o espaço e, com frequência, para por aí. Em muitos poucos casos, ela alcança sua fonte verdadeira, além de todo o condicionamento.
É difícil abandonar essa tendência de identificar o corpo como o eu. Eu não estou falando para um indivíduo, estou falando para a consciência. É a consciência que deve buscar sua fonte.
Do estado de não-ser surge o sentimento de existência. Ele surge tão silenciosamente quanto o crepúsculo, com apenas uma sensação de “eu sou” e, de repente, o espaço está lá. No espaço, o movimento começa com o ar, o fogo, a água e a terra. Todos esses cinco elementos são você. A partir de sua consciência tudo isso aconteceu. Não existe indivíduo. Existe somente você, a movimentação total é você, a consciência é você.
Você é a consciência, todos os nomes de Deus são seus nomes, mas ao se agarrar ao corpo você se entrega ao tempo e à morte – você os introduz em si mesmo.
Eu sou a totalidade do universo. Quando eu sou a totalidade do universo não tenho necessidade de nada, porque sou tudo. Mas eu me apertei dentro de uma pequena coisa, um corpo; fiz de mim um fragmento cheio de necessidades. Como um corpo, preciso de muitas coisas.
Na ausência de um corpo, você existe ou existiu? Você está, ou esteve, aí? Atinja esse estado que é [e era] anterior ao corpo. Sua verdadeira natureza é aberta e livre, mas você a cobre, você dá a ela vários padrões.
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M: Minha perspectiva atual é de total liberdade, sem limitações.
Finalmente, você deve ir além do conhecimento, mas o conhecimento deve vir, e pode vir, através da meditação constante. Na medida em que se medita, o conhecimento “eu sou” gradualmente diminui e se funde com o conhecimento universal, e assim se torna totalmente livre como o céu ou o espaço.
Aqueles que vêm aqui com a ideia de obter conhecimento, mesmo o conhecimento espiritual, chegam como indivíduos querendo ganhar alguma coisa; e esta é a verdadeira dificuldade. O buscador deve desaparecer.
Quando você conhece sua natureza verdadeira o conhecimento “eu sou” permanece, mas ele é ilimitado. Não é possível você obter o conhecimento, porque você é o conhecimento. Você é aquilo que está procurando.
Seu ser verdadeiro existe antes do surgimento de qualquer conceito. Você pode, como um objeto, compreender alguma coisa que existia antes do surgimento de um conceito? Na ausência da consciência há alguma prova da existência de qualquer coisa? A própria consciência é a mente, é pensamento, é todos os fenômenos, toda a manifestação. Compreender isso é morrer para a ideia “eu-sou-o-corpo”, enquanto vivo. Esse tipo de conhecimento é raro, e é um tipo muito sutil de conhecimento onde nenhum esforço é necessário; na verdade, o próprio esforço é um obstáculo. É uma compreensão intuitiva.
Q.: Então todas as disciplinas espirituais devem ser abandonadas?
M.: Num nível mais elevado sim; mas nos primeiros estágios você tem que fazer seu dever de casa.
Aqueles que, intuitivamente, são capazes de assimilar isso, perdem seu interesse nos assuntos mundanos. E o que eles ganham com isso? O que eles perderam, terão perdido como uma pessoa comum, mas o que eles obtém de retorno é digno de um Rei. Aqueles que compreenderam e alcançaram um certo estágio não pedirão nada, mas tudo virá a eles espontaneamente. Não haverá desejo pelas coisas; entretanto, elas aparecerão.
Isso não acontece para um indivíduo; acontece para a manifestação universal, ou para aquele que se tornou um com a sua verdadeira natureza. Para o jnani [sábio], só o testemunhar está acontecendo.
