A importância da prática constante

A importância da prática constante

 (trecho do Capítulo X do livro “Os Ensinamentos Finais de Annamalai Swami”, de David Godman)

 

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O livro “Os Ensinamentos Finais de Annamalai Swami”, de David Godman, reúne os ensinamentos desse que é considerando um dos principais discípulos do grande sábio indiano Sri Ramana Maharshi (1879-1950), tendo vivido com ele e aprendido dele por vários anos, finalmente alcançando a realização suprema. O livro já conta com edição em português e os detalhes da publicação podem ser encontrados neste post.  Para adquirir um exemplar acesse nossa loja virtual ou clique aqui para comprar o livro em formato e-book AmazonKindle.

 

 Pergunta: Eu tenho tido pequenos vislumbres, especialmente durante o sono, de não ter pensamentos. Têm acontecido outros vislumbres nos lugares mais improváveis. Em Lucknow, que é uma cidade grande e agitada, com pessoas gritando e berrando por todo o lado, eu estava descendo de bicicleta uma rua movimentada quando repentinamente senti a paz do Ser, que era subjacente a tudo. Eu pude sentir o Ser, ou pelo menos foi uma experiência que eu pensei que deve ter sido do Ser. Havia uma imobilidade e um silêncio no meio dessas condições totalmente caóticas. Em outros momentos o pêndulo oscila para o outro lado e eu me sinto completamente perdido em meu mundo mental, e no mundo caótico exterior.

Eu me sinto um pouco confuso sobre o processo e a técnica da autoinquirição, a tal ponto que eu preciso voltar e ler os ensinamentos de Ramana sobre o assunto repetidamente até que a confusão me deixe. Eu gostaria de ouvir os comentários do Swami sobre isso. Eu sei que não há nada novo que ele possa dizer sobre o assunto. Eu sei que tenho que continuar com a autoinquirição.

Annamalai Swami: A meditação constante é o único caminho. Se você traz a luz para dentro do seu quarto, a escuridão imediatamente vai embora. Você tem que cuidar  para que a luz não se apague. Ela tem que estar continuamente queimando para que não haja escuridão. Até que você fique firmemente estabelecido no Ser, você tem que continuar com sua meditação. As dúvidas tomarão conta somente se você esquecer de si mesmo.

Pergunta: Minhas dúvidas não são o meu único problema. Eu sinto que o meu anseio pelo Ser não é muito forte. Isso me incomoda muito.

Annamalai Swami: Quando você esquecer o estado de ser você mesmo, então é hora de inquirir, “Quem esquece o Ser? Quem está em dúvida? Quem está confuso?” Investigue assim. Descarte tudo o que não é você e volte-se para si mesmo.

Pergunta: Algumas vezes sou dominado pela dúvida em relação a mim mesmo.

Annamalai Swami: Se a meditação não for contínua o suficiente, a outra parte da mente torna-se predominante. Você tem que sobrepujar essa mente que está lhe afastando de você mesmo, fazendo repetidamente essa autoinquirição.

Quando você bate a coalhada e separa a manteiga e o soro, eles não se tornarão unos novamente depois de terem sido separados. Se você tomar leite do úbere da vaca, ele [o leite] nunca mais voltará para dentro da vaca. Do mesmo modo, se você se estabelecer no Ser, você não retornará para a ignorância novamente.

Pergunta: Quando tenho essas dúvidas, o anseio ou o desejo de conhecer a mim mesmo surge muito forte, mas outras vezes ele não é tão forte. O que você acha disso?

Annamalai Swami: O que quer que esteja acontecendo, investigue, “Para quem tudo está acontecendo?” Faça isso e volte para o seu Eu Real, que é paz.

Pergunta: Eu pensei que esse anseio fosse um ponto a mais a meu favor. Não ajuda ter essa ânsia?

Annamalai Swami: Se a intensidade para conhecer a si mesmo for forte o suficiente, a intensidade de sua ânsia o levará ao Eu Real.

Pergunta: E ainda assim eu devo prosseguir com a inquirição.

Annamalai Swami: Se você permanecer no Ser, a inquirição não será necessária. Se você afastar-se do Ser e voltar para a mente, você então tem que inquirir novamente e voltar para o seu Ser.

Pergunta: Para quem surge essa intensidade para realizar o Ser? Ela tem que surgir para o “eu” que, por fim, tem que desaparecer.

Annamalai Swami: Quem é este “eu”? Ele não é nem o corpo e nem a mente. Se você permanecer  como o Ser, não há nem corpo e nem mente. Então o que é este “eu”? Investigue dentro dele e descubra por si mesmo.

Quando você vê a corda, o que acontece com a cobra? Nada acontece a ela porque nunca houve uma cobra. Similarmente, quando você permanece como o Ser, existe uma compreensão de que esse “eu” nunca existiu.

Tudo é o Ser. Você não é separado do Ser. Tudo é você. Seu estado real é o Ser, e naquele Ser não há nem corpo e nem mente. Essa é a verdade, e você conhece-a por sê-la. Esta ideia “eu sou o corpo” é errada.  Essa falsa ideia deve ir embora e a convicção “eu sou o Ser” deve vir a ponto de tornar-se constante.

No momento, esta ideia “eu sou o corpo” parece muito natural para você. Você deve trabalhar até chegar ao ponto no qual a ideia “eu sou o Ser Real” torne-se natural para você. Isso acontece quando a falsa ideia de ser o corpo vai embora, e quando você para de acreditar que ela é verdade; ela desaparece como a escuridão desaparece quando o sol surge.

Essa vida toda é um sonho, um sonho dentro de um sonho dentro de um sonho. Nós sonhamos este mundo, nós sonhamos que morremos e nascemos em outro corpo. E nesse nascimento nós sonhamos que temos sonhos. Todos os tipos de prazeres e sofrimentos alternam-se nesses sonhos, mas chega um momento quando o despertar acontece. Neste momento, que chamamos de realização do Ser, há a compreensão de que todos os nascimentos, todas as mortes, todos os sofrimentos e todos os prazeres eram sonhos irreais que, finalmente, chegaram ao fim.

Todo mundo já experimentou um sonho dentro de um sonho. Pode-se sonhar que se despertou de um sonho, mas esse despertar ainda está acontecendo dentro de um sonho. Nossas vidas inteiras são sonhos. Quando essa vida de sonho termina e uma nova começa, não existe o conhecimento de que ambos os sonhos estão acontecendo no sonho subjacente do samsara.

Bhagavan nos instruiu no Quem sou eu[1]? para percebermos o mundo todo como um sonho. Quando a realização acontecer, nada lhe afetará porque você terá o firme conhecimento de que toda a manifestação é um sonho irreal.

 

 

 

[1]           Texto publicado em português no livro Pérolas de Sabedoria, pela Editora Teosófica, ano 2010. [N.T.]

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