[Fazer uma apresentação ou “resumo” dos ensinamentos do Mooji é sempre um desafio, e o resultado nunca terá o sabor daquilo que acontece realmente nos Satsangs dentro de cada um. Contudo, para apresentar umas linhas gerais sobre os seus “ensinamentos” e “estilo”, bem como familiarizar as pessoas com os conceitos gerais, é que experimentalmente escrevemos as linhas que seguem.]

Mooji constantemente nos aponta para a Realidade que já está aqui, agora, sempre: nós somos o SER perfeito, absoluto, imutável, sem atributos. Para isso utiliza a ferramenta da autoinquirição ensinada por Ramana Maharshi e Papaji, sempre desafiando os nossos pré-conceitos, apegos, desculpas da mente e condicionamentos, também guiando-nos no caminho da autoentrega.

Sua mensagem é muito simples: trata-se de redescobrir a nossa felicidade, paz e liberdade originais, removendo os obstáculos que existem apenas na nossa mente. Essa é a preciosa oportunidade da vida humana; alcançar essa iluminação é uma possibilidade aberta a todos, independente de suas condições.

“Você não precisa fazer nada para ser o que é, mas precisa fazer algo para deixar de ser o que não é.” E esse “algo” não é uma ginástica espiritual intensa, mas apenas a disponibilidade e disciplina de olhar para dentro e investigar o que é o “eu”, o “mim”, sempre que esse fantasma estiver presente.

Somos apontados a reconhecer que tudo o que é percebido, experienciado ou conhecido, é algo fenomenal – ou seja, é um “objeto”, algo que surge e desaparece. Mooji nos lembra que todos os fenômenos surgem para um sujeito que os observa, um “eu-mim”. Nesse sentido, podemos dizer que o “eu” é o centro do mundo, ou pelo menos do nosso mundo. Quando não investigado, esse sujeito parece ser uma entidade limitada, pessoal, fechada – um ponto localizado no tempo-espaço, vivendo em um mundo objetivo exterior. Contudo, olhando-se mais profundamente percebemos que este “eu” é, na verdade, apenas pensamento, conceito, o “pensamento-eu” (ahamvritti).

Essa compreensão dá uma imensa liberdade. Mas não é o bastante, porque existe algo que descobre isso. Quem é que está consciente do “eu”? Prosseguindo, assim, na investigação, descobrimos que a Consciência está consciente do eu, e que a Consciência é este espaço impessoal, ilimitado – a presença EU SOU – no qual o “eu” é apenas uma invenção da imaginação, errando por aí. O que, então, nós somos? O objeto – o “eu” pessoal que antes julgávamos ser o sujeito – ou a Consciência que percebe o “eu”? Fica claro, então, que só podemos ser a Consciência, porque estamos conscientes do “eu”, e nenhum objeto é consciente de si mesmo.

Aqui já há paz, alegria e liberdade inimagináveis, e muitos caminhos e religiões chegam até este ponto. Contudo, Mooji – assim como Ramana Maharshi, Nisargadatta Maharaj e Papaji – nos convida a dar um passo além.

Quando permanecemos com a atenção focada mais e mais apenas no EU SOU – isso, segundo o mestre, é a forma mais simples de autoinquirição – começa a ficar claro que mesmo este espaço sutil de Consciência existe dentro de um espaço maior, que o percebe. Sabemos que estamos conscientes, que conhecemos a existência – então devemos ser Aquilo que está além de tudo – a Pura Consciência (Awareness), Realidade, ou Absoluto (Brahman). Aqui a Realização/Iluminação se revela eternamente.

Assim, a “espinha dorsal” da autoinquirição ensinada por Mooji e guiada ativamente em todos os Satsangs é o conjunto destas quatro perguntas:

  1. Para quem todas as experiências, percepções, conhecimento, e fenômenos mentais (desejos, pensamentos, sentimentos, etc.) existem?
  2. Quem ou o que é este “eu”?
  3. Quem ou o que descobre que este “eu” é irreal, ilusório, apenas um pensamento?
  4. O que é você que está além da Consciência?

Tudo o que existe existe apenas para um “eu”, para “mim” (1). Este “eu” não é concreto; é apenas um pensamento, apenas a idéia que eu tenho de mim mesmo, minha identidade; não é real (2). Eu sou aquele espaço impessoal de Consciência; eu estou consciente do “eu”, mas não sou uma entidade, uma pessoa (3). Silêncio (4).

Seguindo essas perguntas atômicas a ilusão da prisão é dissipada, por meio da pura compreensão. É claro, uma resposta intelectual ou mental a esses questionamentos não será o suficiente, e pode até produzir arrogância e egocentrismo. O que se faz necessário é olhar repetidamente para as ilusões que estão arraigadas, à luz dessa investigação, e “marinar no nosso ver” (como diz Mooji), digerir essa compreensão, até que todo o traço de identificação se vá.

Outras maneiras que Mooji nos guia no mesmo processo são:

  • Entrega = abandone-se à Fonte de seu Ser, esqueça completamente de “eu” e “meu”, e permaneça nesse fogo
  • Abandone tudo = não toque em nada na sua mente – nenhum conceito, memória, projeção, apego, etc. Largue tudo, rejeite tudo interiormente, permaneça apenas consigo mesmo, com o puro EU SOU não associado, e veja o que é que permanece.

Embora os assuntos tratados nos Satsangs sejam diversos, todos parecem girar em volta desse eixo, e convergir para essas perguntas centrais.

Nesse caminho Mooji nos alerta para não cairmos nas diversas armadilhas da mente, nem sucumbir aos medos que ela apresenta nesse processo, sendo tudo isso irreal. A tendência de querer consertar a mente ou tratá-la a partir da presunção da sua realidade e importância é como querer curar a anorexia de um fantasma. O atalho é, sempre: deixe tudo isso de lado e descubra quem você é.

Enfim, suas próprias palavras são mais eloquentes do que qualquer explicação [citações extraídas do livro do Mooji, Antes do Eu Sou].

Foque a atenção em localizar aquele que está sofrendo. Desta maneira descobre-se que não existe ninguém ali para sofrer. É a ideia que você tem de si mesmo que aparentemente sofre. E o que descobre isso? Novamente é compreendido que existe apenas a descoberta, mas nenhum descobridor individual.

 

Eu vim aqui compartilhar com vocês estas boas novas: Você é completo. Você é perfeição além do conceito de perfeição. Você é o princípio eterno – você já está aqui, imóvel, antes mesmo do conceito “eu sou” surgir. A partir do ponto de vista mais alto, você percebe tudo como sendo a sua brincadeira. Você é tudo que há.

 

Por mais que você tenha se esforçado em construir uma vida segura que satisfaça sua projeção, ainda sim sua criação não se igualará, em qualidade e bênçãos, à vida que está se desdobrando sem intenção humana.

 

Se você agarrar-se à intuição, à sensação “eu sou”, e não permitir que isto se conecte com nenhum outro conceito, se você apenas deixar que o “eu sou” incube em si mesmo – imediatamente, alegria e espaço prevalecerão. Espontaneamente existe a silenciosa e intuitiva convicção: “Eu sou o Ser atemporal, sem limites.” Isto não é um ensinamento, mas uma poderosa experiência interna – inexplicável.

 

Você já é a paz que você está buscando. Fique em silêncio e saiba disso.

 

Não há nada que você deva fazer ou mudar para ser o que você é. No entanto, existe algo que você deve reconhecer para deixar de ser aquilo que você não é: investigue quem você é. Através da autoinquirição, o falso sentimento de eu, o ego, é exposto como uma aparição fantasmagórica na luz e na presença do real observador, o seu Ser.

 

A verdadeira autodescoberta é o reconhecimento e a realização do que este “eu” é. A realização total de que o “eu” é o supremo Ser e não uma “pessoa” é o que é chamado de Libertação. E crucialmente, a falta de clareza acerca do “eu” é o ás na manga da mente e é comumente negligenciado ou passado despercebido.

 

Permaneça fixo no coração. A todo o momento, onde quer que a atenção vá, traga-a de volta para o Ser-Consciência. Gradualmente, ela permanecerá lá sem esforço. Esta é a única prática que se precisa fazer.

 

Apenas aquele com olhos perfeitos pode ver a Perfeição. E o que são olhos perfeitos? Olhos que veem sem desejos ou interpretação.

 

O Ser assume todas estas máscaras. O Ser esquece a si mesmo, e por isso parece descobrir o seu Ser. No entanto o Ser permanece puro todo o tempo.

 

O “eu” é o denominador comum de todas as experiências. Então, quem é este “eu”? Por que esta é a pergunta mais auspiciosa? Porque sem questionar quem é este “eu” você já se considera ser uma pessoa; você toma este corpo como sendo o que você é. Qualquer que seja o papel que o “eu” faz, aquele que observa o “eu” é anterior, estável e sem imagens. Reconheça e permaneça como aquela intuição sem-“eu”.

 

Não existe resposta para a pergunta “Quem sou eu?” Quando alguém busca pela raiz do pensamento-“eu”, o próprio investigador é exposto e evidenciado como um mito. Isto resulta na dissolução do sentimento de separação e no reconhecimento final da Verdade, o pano de fundo sem imagens de todas as aparências. A Pura Consciência é o Imutável no qual tudo surge e é percebido como um jogo efêmero.

 

Entregue a sua existência à própria existência. Pare de nadar. Abandone o impulso de salvar-se. Faça-o agora. Eu estou aqui observando. Não entretenha o pensamento, “Não! Eu não posso! Eu não posso rejeitar o esforço!”. É isso que cria o sofrimento. Ao deixar ir, deixar ser, existe a paz, silêncio e clareza que surge do completo abandono. Deixe a vida ser.

 

“O que fazer?” é o mantra da mente. O silêncio é a resposta, mas a mente não compreende este conselho excelso. “O que fazer, o que fazer, o que fazer?” – quem é que o empregou para estar fazendo qualquer coisa?

 

Apenas permaneça em silêncio dessa forma. Apenas fique quieto. Você não tem nada para “fazer”, nada para “entender”. Não toque na ideia que algo está faltando para você. Não toque em nenhuma ideia em absoluto!

 

Enquanto a gota de chuva está caindo na direção do Oceano, o medo da descontinuação pode parecer maior que a alegria antecipada de fundir-se com o Infinito. Mas quando ela toca o Oceano, pode ela contar a história da viagem?

 

Tudo que é necessário você já possui em abundância.

 

Como é possível que Aquilo que permanece eternamente imutável manifesta-se como o mutável, e parece passar por algum tipo de hipnose ao acreditar estar separado de si mesmo? E então se esforça na direção de conhecer a si mesmo através da mente? Como pode ser que Isto cria todo este sonhar, e então também manifesta a capacidade de despertar-se de seu próprio sono autoinduzido? Tudo isto apenas para realizar que nunca esteve adormecido! Que coisa estranha! [Risadas] Esses paradoxos! Tudo explode em paradoxos! E aquilo que os testemunha? Está além dos paradoxos.

 

Não suprima a sua dança a fim de representar algum papel. Seja você mesmo.

 

O que ocorre é que você está colocando o foco na mente que se move em vez de naquilo que está consciente da mente que se move. Você não pode ser a mente movente; você não pode ser mesmo a mente imóvel, porque você é aquilo que testemunha o movimento ou quietude da mente.

 

Uma vez que é compreendido que a Consciência inclui tudo, e ainda assim está além de tudo, então a aceitação é completa. A aceitação não é pessoal – é um estado de ser. Um estado muito pacífico.

 

Você já é livre, mas não está consciente de sua liberdade. Confie em minhas palavras quando eu digo que você já é livre; aja nelas como se você já soubesse que elas são verdadeiras.

 

Quando não há você, há perfeita paz.

 

É algo incrível: você pensa e se comporta como se fosse uma unidade da consciência, com autonomia para fazer decisões separadas, mas isso em si é apenas uma forma na qual a consciência está se expressando.

 

O ego que comete suicídio torna-se o Ser.

 

Apenas quando o sentimento de “eu” pessoal, limitado, funde-se com o Ser universal é que a verdadeira vida começa, e não antes.

 

A Pura Consciência não está do outro lado de nenhum processo, pois a Pura Consciência já é aquilo através do qual qualquer esforço é reconhecido.

 

Mantenha sua atenção naquilo que é anterior à atenção, naquilo em que tanto a atenção como a falta de atenção é percebido, e que está além de ambos.


[As citações abaixo foram extraídas dos Satsangs ocorridos em Tiruvannamalai em janeiro e feveiro de 2010]

Você quer estar livre enquanto ego, mas na verdade você tem que estar livre DO ego. Estar livre do ego é compreender sua irrealidade.

 

Você já é Isto. Não precisa dar nenhum passo para ser Isto – o passo é um passo de compreensão.

 

O mais elevado propósito de estar em um corpo humano é despertar para a Verdade que você é. Se for usado para outros propósitos, então o corpo é apenas o pijama do Ser: estamos dormindo nele.

 

Esvazia-te completamente, para que Deus possa fazer uso de ti.

 

Quando você não está aí, você é supremamente feliz. Quando você está vazio de barulho pessoal, você tem espaço para o mundo inteiro.

 

Deixe passar o que pode passar; descubra aquilo que não pode passar.

 

A mente é a versão pirata – não é o real.

 

O que quer que você possa descrever não é aquilo que você é.

 

Se você for rumo ao Um, conhecerá também a multiplicidade. Mas se você for rumo à multiplicidade, conhecerá apenas fragmentação. O cientista estuda o mundo; o Buda estuda a si mesmo.

 

Qual é a sua posição quando mesmo o “eu”, que é o mais íntimo, é testemunhado? Não há resposta para esta pergunta – apenas puro Ver.

 

Onde quer que a Consciência se manifeste, há condicionamento. Então, que chance temos? Todas as chances! Porque maya só pode lhe tocar se você se identificar com o corpo-mente.

 

Você é humano e divino. Seus problemas humanos lhe ajudam a descobrir sua natureza divina.

 

O Ser não precisa escapar da mente. A voz que está dizendo isso vem da própria mente. Não se identifique com isso.

 

A natureza da ilusão é tal que, quando exposta, ela desaparece.

 

Tudo o que você precisa fazer é reconhecer sua verdadeira posição como a testemunha. Você precisa fazer isso apenas por um tempo, até que o feitiço seja quebrado. Mesmo depois disso as tendências mentais [vasanas] podem ainda surgir, mas daí sem nenhum poder, tal como a luz da lua em um dia de sol.

 

Transcender o pensamento é transcender o mundo.

 

Nós sentimos que estamos voltando para Casa; mas na verdade nós somos a Casa, e a mente está voltando. Essa é a experiência.

 

Grande energia foi posta para acreditar no falso, mas nenhuma energia é necessária para permanecer como a Verdade, porque ela brilha por si só.

 

Deixe que cada pensamento venha e lhe toque, mas você não toque em nada. Assim, gradualmente, o barulho desaparecerá.

 

O aspecto mais simples da autoinquirição é apenas manter-se no sentimento EU SOU, no sentimento de ser, existir. Deixe o sentimento EU SOU sem associações. Qualquer um pode fazer esse exercício – ele traz resultados imediatos.

 

Atravessar essa ideia de “eu” é a chave mestra. Todas as dúvidas da mente e todos os mistérios do universo são esclarecidos com a compreensão do que é este “eu”.


Acreditamos que a melhor maneira de absorver os ensinamentos do Mooji é, sem dúvida, participar de seus Satsangs [veja agenda]. Quando isso não é possível, o ideal são os Satsangs disponíveis em vídeo (DVDs ou YouTube), ou então em audio, em que o poder de sua presença também é sentido. Já nos livros encontra-se uma versão mais condensada dos Satsangs.