Dizem que quando um grande mestre está para nascer, várias almas avançadas decidem tomar nascimento também a fim de tornarem-se seus discípulos e alcançar a realização. Seja verdade ou não, o fato é que Sri Ramana teve inúmeros discípulos notáveis, tanto mendicantes como pessoas no mundo.

Em que pese Ramana Maharshi não ter abertamente “certificado” a iluminação de nenhum devoto – com exceção da sua própria mãe e da vaca Lakshimi, mesmo assim ambas apenas após a sua morte –, e não ter jamais desejado criar uma “linhagem” ou um novo sistema, alguns de seus discípulos são reconhecidos como iluminados, sendo que em alguns casos o próprio Bhagavan deu “sinais” demonstrando a realização de alguns deles.

Muruganar

Muruganar (1890-1973) é largamente conhecido como sendo o devoto do Bhagavan mais eminente e de maior influência. Foi ele quem persuadiu Sri Ramana a escrever o The Collected Works of Ramana Maharshi e o Upadesa Undiyar (Translation and Commentary by Sadhu Om), dois de seus trabalhos filosóficos mais importantes. Também reuniu diversos ensinamentos do Bhagavan em uma coleção de versos chamada Guru Vachaka Kovai (Versos: GVK 1-153GVK 154-265GVK 266-383GVK 384-501GVK 502-877 e GVK 878-1254), a qual se constitui a maior coleção de ensinamentos espirituais na forma de versos que foram completamente verificados e corrigidos pelo Maharshi.

Muruganar encontrou o seu Guru em setembro de 1923, e partir de então dedicou sua vida integralmente a escrever sobre seus ensinamentos e compor milhares de versos devocionais em exaltação à graça de seu Guru. Em inúmeros desses versos Muruganar relatou que pela graça do Bhagavan havia “realizado o Self”. Sri Ramana leu a coleção que continha tais versos e permitiu que os mesmos fossem incluídos na rotina de leitura comunitária diária em seu ashram, o que denota uma evidente concordância com o conteúdo dos mesmos.

Entre outros textos devocionais, Sri Muruganar compõs o Sri Ramana Experience.

Sadhu Om

Sadhu Om Swamigal (1922-1985) desde seus primeiros anos possuía uma mente sedenta por conhecimento espiritual, tendo um forte desapego do mundo e dos prazeres desde a adolescência. Em 1946 encontrou Sri Ramana Maharshi e viveu na presença do Mestre até a morte deste, em 1950. Sadhu Om era um amigo e seguidor de Muruganar, trabalhando extensamente na tradução para o inglês dos versos compostos por ele. Escreveu The Path of Sri Ramana (Partes I e II), que consiste em uma excelente sistematização e exposição da prática da autoinquirição e da entrega, segundo o caminho do Maharshi. Também escreveu comentários aos principais textos e versos escritos pelo Sri Ramana Maharshi, dos quais destacamos:

Annamalai Swami


Annamalai Swami (1906-1995) conheceu Bhagavan em 1928 e tornou-se seu discípulo atendente. Durante mais de 10 anos viveu na proximidade do mestre, aprendendo diretamente de suas palavras e de seu exemplo, e trabalhando como mestre de obras do Sri Ramanasramam. A partir de 1938 Sri Ramana o instruiu a parar de trabalhar no Ashram e a não mais visitá-lo, mas sim dedicar o seu tempo a meditar silenciosamente em uma cabana ali perto, onde o swami permaneceu até seu falecimento, em 1995. Após décadas de sadhana [prática espiritual], Annamalai Swami realizou o Eu Real.

A partir dos anos 80 até a sua morte, vários devotos de Ramana Maharshi vinham a Annamalai Swami para questionar a respeito dos ensinamentos do mestre. Suas explicações, assim como o relato de sua vida com o Bhagavan, encontram-se publicados nos livros Living by the Words of BhagavanFinal Talks, ambos editados por David Godman, e constituem uma bela fonte de ensinamentos.

Papaji (veja aqui)

Natanananda Swami

Sadhu Natanananda (1898-1981) era um professor de ensino fundamental que conheceu Ramana Maharshi em 1918. Escreveu um livro com versos espirituais expondo os ensinamentos de seu guru, chamado Sri Ramana Darsanam. Em tal livro descreve como, pela graça do Bhagavan, alcançara a Realização do Self:

Sri Ramana Darsanam – Sri Natanananda (trechos)

Sri Lakshmana e Saradamma


Sri Lakshmana Swamy (1925 ~~) desde sua infância não tinha interesse em estudos ou espiritualidade, interessando-se, por outro lado, por esportes e humor (mas não socializava com amigos). Aos 17 anos tem uma experiência no qual é atacado por um espírito malévolo e, desde então, reconhecendo a fragilidade da vida, começa a praticar a entoação de mantras (nome de RAM) e praticar pranayama (exercícios ióguicos de respiração) diariamente. À medida que o tempo passa sua determinação na prática espiritual e seu desapego crescem. Decide que não quer casar, mas apenas dedicar-se à prática.

Nas férias de seu primeiro ano de faculdade Lakshmana teve uma experiência de contato direto com o Eu Real, e passou os próximos anos de sua vida fazendo práticas espirituais na esperança de repeti-la. Frustrado, conclui que necessita do auxílio de um Guru a fim de alcançar o Self. Então resolveu parar de estudar e dedicar-se integralmente à sadhana. Depois de certo tempo, desiste da prática do pranayama, concluindo que o que poderia extrair dela já o tinha feito. Em uma palestra em sua escola, ouve falar de Ramana Maharshi, sendo que imediatamente reconhece o mesmo como o Guru que ele estava procurando.

Em 1949 Lakshmana visita o Sri Ramanasramam por três dias, passando tempo na presença do Bhagavan, mas sem conseguir falar com ele. Retorna à Gudur e decide dedicar-se integralmente à meditação em uma cabana em uma vila na proximidade. Nesses meses de prática, sempre que sua mente se aquietava, a pergunta “Quem sou eu?” surgia espontaneamente nele, fazendo sua mente mergulhar no Coração. Depois de passar várias dificuldades na sua cabana, contraí malária, vendo-se obrigado a retornar para casa. Neste momento, sente-se desapontado com sua falta de progresso no caminho espiritual.

Sua doença progride, mas Lakshmana está determinado a não morrer antes de ver seu Guru mais uma vez, partindo a partir da resistência de sua família. Chegando ao Ramanasramam, Lakshmana senta-se aos pés do Maharshi para receber o seu darshan [visão] e lá alcança a Realização, na presença do Guru. No dia seguinte passa um bilhete ao Sri Ramana dizendo “Oh Bhagavan, na sua presença e pela busca [quem sou eu?] eu realizei o Self”. O Guru olha para ele por um momento, e então sua face se ilumina com um sorriso de aprovação.

Depois de sua iluminação Sri Lakshmana passa alguns anos vivendo em uma cabana com instalações primitivas, raramente comendo ou dormindo, sem ver ninguém, completamente entregue ao seu estado interior, sem falar. A partir de 1954 passa a ter encontros mais freqüentes com buscadores; interrompe seus cinco anos de silêncio, e se mostra mais acessível a todos. Em 1975 começa a crescer um ashram ao seu redor, com várias novas construções, e passa a receber devotos semanalmente. Mais recentemente, muda-se para Tiruvannamalai.

Nos últimos anos sua saúde está muito debilitada, e não se encontra mais livremente acessível. Passa a dar darshans apenas duas vezes por ano, no seu aniversário (25 de dezembro) e durante o festival Deepam (normalmente em novembro).

Sarada encontra seu mestre, Sri Lakshmana Swami, em 1975, e desde então se dedicou completamente a seu Guru, até alcançar a realização com ele, quatro anos depois. Seu caminho foi o da devoção e entrega incondicional ao Guru.

Hoje em dia Sri Lakshamana e Saradamma vivem em uma casa perto de Arunachala, estando mais ou menos inacessíveis aos buscadores. Entretanto, todas as manhãs os mestres saem de sua casa para um passeio, de furgão, ao redor de Arunachala, quando então é possível vê-los por alguns segundos e usufruir da beatitude gerada por sua presença.

Recentemente foi criado um site pelos discípulos da Saradamma falando sobre os mestres e seus ensinamentos. Veja aqui.

Maha Krishna Swami

A decisão de incluir Maha Krishna Swami nesta seção do nosso site visa a esclarecer alguns fatos sobre ele, e é consequência das diversas perguntas que temos recebido por email a esse respeito.

Segundo seu próprio relato, Maha Krishna Swami nasceu na Índia em 1935, e veio com a família para a América do Sul em 1944, acompanhando o pai, que era ligado à diplomacia. Após visitar alguns países da região, fixou residência em Peruíbe, interior de São Paulo, onde fundou um ashram chamado “Bhagavan Sri Ramanashram” e onde passou a dar ensinamentos espirituais (veja seu site). Ele afirmava ter sido enviado pelo próprio Sri Ramana, de quem seria devoto, que teria lhe dito pessoalmente que no Brasil existia uma montanha sagrada da mesma magnitude de Arunachala, e que ele deveria vir para cá para “promover a grande união entre os homens”, difundindo os ensinamentos do Bhagavan no Ocidente.

A história narrada por Maha Krishna Swami aparece no livro de Major Chadwick, A Sadhu’s Reminiscences. Conforme consta nessas reminiscências, Bhagavan estava ponderando que Arunachala era o centro espiritual do mundo, e queria ver onde daria o outro lado desse eixo, traçando-se uma reta pelo centro da terra. Consultaram um atlas e descobriram que o ponto seria no oceano Pacífico, logo ao lado da costa oeste da América do Sul, não havendo menção acerca do Brasil.

Cumpre esclarecer que, na vasta literatura Ramana, o nome de Maha Krishna Swami jamais foi citado por quaisquer dos devotos que viveram com o Mestre por anos seguidos. David Godman – editor, escritor e compilador dos ensinamentos de Ramana Maharshi e seus devotos, ele mesmo um grande devoto e a maior autoridade viva nesse assunto, e que vive há mais de trinta anos próximo ao Ramanasramam – afirma que jamais houve qualquer menção ao Brasil por parte do Bhagavan, e também que não existe nenhuma referência de que o Bhagavan tenha dado uma missão espiritual a qualquer pessoa em qualquer época. Também se desconhece que o Bhagavan ou a Administração do ashram tenha dado autorização para a criação de uma filial brasileira do Sri Ramanasramam.

Infelizmente, as informações que Maha Krishna Swami apresenta são incertas e não passíveis de verificação e comprovação. Por exemplo, ele não localiza no tempo sua estada no ashram, apenas diz que viveu lá por anos, sem especificar datas (pelo que se deduz teria sido entre 1935 e 1944). No livro “Ramana Meu Mestre”, não há nem mesmo a data de edição do livro, o que é bastante estranho. Percebe-se que ele faz referências a ensinamentos reais do Bhagavan, mas não cita as fontes e nem as datas. Várias partes do texto são inconsistentes, como, por exemplo, aquela que afirma ser uma tal meditação iniciática o método prescrito pelo Bhagavan, quando todos sabemos que o método que o Bhagavan indica é a autoinquirição. Não é feita no livro inteiro qualquer referência à autoinquirição, abordagem reiteradamente ensinada pelo Maharshi aos mais diversos buscadores que vinham ter com ele.

Não questionamos a devoção dele ao Bhagavan, que parece ser autêntica, e acreditamos que seu trabalho possa ter beneficiado algumas pessoas, mas seus ensinamentos não guardam correspondência aos verdadeiros ensinamentos de Bhagavan Sri Ramana Maharshi.

Outros

Outros discípulos/devotos que valem ser mencionados são, entre os indianos: Sivaprakasam PillaiKunju SwamiLakshmana Sarma (“Who”, autor de Maha Yoga e Sri Ramana Paravidyopanishad (Versos 1 a 321), Sri Ramana Paravidyopanishad (Versos 322 a 701)). Entre os devotos do Maharshi que ajudaram a disseminar seu ensinamento no ocidente, destacam-se: Paul BruntonArthur OsborneF.H. Humphreys e (posteriormente à morte de Sri Ramana) David Godman.